A literatura sempre me fascinou. Como contar histórias para crianças pequenas? Resgato em minha memória, eu, ainda pequenininha, escutando minha mãe cantando um texto de algum livro escolar de minha irmã mais velha. Eu lembro do cheiro do livro. Eu lembro de estar no colo da minha mãe. Eu lembro do trecho: “Pensem nas feridas como rosas cálidas”.
Na época eu não sabia o que a maioria das palavras significavam, nem imaginava como minha mãe vendo aquele livro, transformava ele em canção, mas eu sinto até hoje a sensação afetiva, aquele carinho em forma de palavras. Minha mãe me acariciava com a poesia “Rosa de Hiroshima” de Vinicius de Moraes.
Dúvidas comuns das famílias com a experiência de contar histórias para crianças pequenas
Em minhas conversas com famílias ou com educadores, muitas vezes escuto alguns questionamentos: “O que fazer para essa criança se interessar pela leitura?”, “Como posso melhorar minhas estratégias para contar histórias?” “Ler ou contar histórias?” “Quais gêneros literários são bons para a criança?” “Mas…para que contar histórias?”. “Como contar histórias para crianças pequenas?
Essas questões são preciosas. Enquanto participo da discussão, acolho todos os questionamentos e vou compondo meu território de pesquisa para buscar respostas através do estudo e da prática com crianças pequenas.
A criança que está imersa em um universo leitor, desenvolve habilidades e competências que serão exigidas durante toda sua vida, como a criatividade, a expressividade oral, a interpretação e a produção de textos. A criança também vive sentimentos e sensações, enfrentando medos e conflitos, participa da cultura de um grupo e vai se constituindo como sujeito também produtor de cultura.
Minhas experiências em contar histórias para primeira infância.
Em meu trabalho, exclusivamente na escola da infância eu tenho dedicado um olhar mais profundo sobre as relações da literatura infantil com a formação da criança leitora, que é um assunto complexo, pois a criança, ainda que não saiba ler convencionalmente, já é uma leitora exigente.
O que cativa o interesse verdadeiro da criança? Como afirma Bruno Bettelheim (2001, p.13) para que uma história realmente desperte o interesse da criança “para enriquecer sua vida deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar clara suas emoções.” Sendo assim, quais são as boas histórias para a criança de 4 a 6 anos? e qual o papel do adulto na mediação entre criança e o universo literário?”
A importância da família em estimular a leitura
É necessário destacar que o papel do adulto é essencial. Ele é o exemplo de o leitor que irá cativar o interesse da criança. É um parceiro linguisticamente mais experiente.
Nesta perspectiva, a voz da mãe é frequentemente o primeiro contato da criança com o universo das histórias e esse contato pode começar bem cedo, ainda na barriga da mãe ou no aconchego do colo, apreciando uma história contada ou um livro especial. Depois, surgem outros leitores experientes para encantar a criança, outros familiares, os educadores, os amigos…
A Base Nacional Comum Curricular, documento orientador para a Educação Infantil, destaca também o papel da família: “Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores.”
Os resultados da participação da família
Cada lar tem em sua história de vida a arte potencial para ser um ambiente fértil para a formação da criança leitora, é um ambiente privilegiado pela relação única de cumplicidade e vínculo, aquilo que é sentido na relação. Eu me inspiro na leveza desta expressão de Fanny Abramovich que afirma que “contar histórias é uma arte… e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido.”
É uma grande responsabilidade e um grande desafio trazer a riqueza das histórias para o cotidiano da criança. Quando o adulto se propõe a contar histórias para crianças pequenas ou ler uma boa história para a criança, na verdade ele está fazendo um convite para viajar em outros lugares, outros tempos, outras realidades. É também um convite para viver a riqueza expressiva e mágica da linguagem a cada história apresentada.